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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

- Mudanças em Blumenau

Mudanças na cidade de Blumenau nas últimas décadas.
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(Fragmento de tese de doutorado da autora, defendido a 21.02.2014  na UFPR/PR) por Urda Alice Klueger.

Como esta pesquisadora vive há mais de cinco décadas na mesma cidade (Blumenau – SC), tem ela constantes surpresas das mudanças que acontecem e aconteceram no seu microcosmo ao longo de tal tempo.
Sua lembrança primeira é de uma cidade de menos de 60.000 habitantes, horizontal, espalhada por vales onde casas eram cercadas por jardins, quintais, pomares e, em grande parte, por pastos onde vivia gado leiteiro e um ou outro cavalo.
As casas possuíam galinheiros e chiqueiros. Todo esse conjunto era cercado pela Mata Atlântica, ainda quase sempre primária, que ocupava o alto dos morros e outros lugares e cortada por cursos d´água no fundo dos vales. Nas mais movimentadas ruas da cidade, ainda se sabia de cor o nome de família de cada morador ou comerciante, e as referências eram dadas de uma certa forma: “primeira curva depois das terras da família tal”, etc. Além do trabalho rural, a maior parte das pessoas trabalhavam numas poucas fábricas. O uso da língua alemã em lugares públicos era considerado normal. No rio que corta a cidade havia um campeonato de pesca ao robalo e competições de remo.

De boné HAROLDO GONÇALVES DA LUZ (pai do José Carlos) ex. gerente das lojas Prosdócimo.
ZONI CASSIANO valorizando a foto, fazendo uma entrevista do evento. 
          Mais tarde, ela guardará a lembrança de uma cidade de 80.000 habitantes, que em pouco se diferenciava da outra, mas onde já haviam nascido os primeiros edifícios. 
A cidade se verticalizava lentamente, mas, mesmo assim, nas principais ruas, ainda circulavam carros de tração animal, como carroças com carga e carros de mola puxados a cavalo, os antepassados dos táxis, que, naquela altura, já haviam se transformado em atração turística e neles os visitantes desfilavam em meio aos automóveis, deleitando-se com aquela tradição do passado que se mantinha funcionando.
          A pesquisadora também tem muitas lembranças da mesma cidade com 100.000 habitantes, e que então se verticalizava velozmente. As casas de comércio multiplicam-se, constroem-se muito em encostas e ao redor dos cursos d´água; já não se conhece o nome das famílias e dos comerciantes como antes. Os carros de mola e as carroças desapareceram; o trânsito de veículos automotivos se intensifica. São raros os pastos e cada vez há menos galinheiros e chiqueiros; algumas nascentes e ribeirões passam a ser canalizados para que não mais invadam áreas que antes eram silvestres e que então estavam cheias de construções. As fábricas e fabriquetas, agora, são muitas, e se cria a terceirização de trabalhos, tanto nas indústrias grandes quanto nas de fundo de quintal, também conhecidas como facções (quando da indústria têxtil). Há cerca de 900 facções no município, nesse tempo. Outros setores se terceirizam, como os de segurança, de limpeza, etc. Intermediários espertos ficam com a maior parte da venda de mais-valia dos que vendem sua força de trabalho. É um tempo de alta inflação e de quando começam a acontecer diversos planos econômicos que prejudicam grandemente a maior parte da população. Também é um período marcado por grandes inundações. Os grandes supermercados substituíram a vendinha próxima à casa das pessoas, o uso de veículos automotores aumentou muito e criou-se a necessidade do uso de eletrodomésticos modernos. Ainda se pode, no entanto, viajar para a praia na sexta-feira e esquecer a casa aberta, voltando-se no domingo sem que ela tenha sido assaltada.
          Neste momento, a cidade de Blumenau conta com um pouco mais de 300 mil habitantes, e pouco se assemelha àquela cidade que um dia a pesquisadora conheceu, no início da sua vida. Se alguém usar a língua alemã, o fato será considerado coisa exótica. Há uma certa impressão de que não há mais terras disponíveis. Onde, faz três ou quatro anos, havia um terreno baldio, hoje nasce um edifício de apartamentos. Muitos córregos morreram nas suas canalizações, afogados em detritos e algas. Principalmente na zona central, a cidade está quase que toda verticalizada, e mesmo nos bairros a verticalização se acelera. Se ainda há pastos, eles estão muito escondidos. Os animais visíveis são os cachorros, os gatos e outros mais exóticos, como cacatuas, etc. Há lojas que anunciam: “Compre uma gaiola e ganhe um ratinho de presente”, numa impressionante desvalorização da vida. Restam sobras da floresta nativa na ponta dos morros e em dois parques criados com a finalidade de preservação, principalmente das nascentes, mas mesmo assim o rio principal da cidade tem muito menos água do que tinha faz poucas décadas. Os principais afluentes desse rio também têm muito menos água que no passado. Em relação ao rio no centro da cidade, outro fato impressiona: foi cercado de tal forma pelo poder público que a população já não pode chegar até ele. O rio só pode ser visto de cima, de longe. Outrora, naquele rio, houvera até um agradável restaurante flutuante, coisa cuja existência agora já não é possível, tendo em vista a falta de acesso à água.
          Pouco sobra da cidade de 60.000 habitantes. Lojas de donos desconhecidos abrem e fecham nos shopping-centers e nas ruas de comércio, sem que se saiba a quem pertencem. Esta pesquisadora, quando passa umas poucas semanas sem percorrer determinadas ruas, tem a surpresa de ver nela construções e comércios que muito recentemente lá não existiam, e ela própria quase desconhece a cidade. Pensa-se que se fosse dado a um jovem de 20 anos imaginar a mesma cidade quando ela tinha 60.000 habitantes, ele teria grande dificuldade em fazê-lo e talvez não o conseguisse.
         
          Urda Alice Klueger
          Escritora, historiadora e doutora emGeografia. 

8 comentários:

  1. Professor Aadaberto!
    Vivat Cor Iesu!

    Li o artigo no seu blog da tese da professora e me nasceram algumas questões para reflexão:
    - Porque motivo o restaurante flutuante do Rio Itajaí Açu não existe mais?
    - Qual o trabalho da secretaria da cultura em nossa cidade?
    - Não há interesse por um resgate histórico? Nossa história é tão recente, de tanto progresso, mas tantas coisas ficam pelo caminho... Vapor Blumenau, Frohsinn... Há algum órgão do governo municipal que se ocupe disso?
    Como lhe disse gosto muito de história, mas acho que Blumenau está se perdendo no caminho. Vamos emprateleirá-las... infelizmente.

    Abraço e prece.
    Fr. Diego Martins, scj
    Av. Francisco Barreto Leme
    12062-000 Taubaté - SP

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  2. Meu caro Adalberto,
    Mais uma vez um excelente testo, mas já falava - se , "Como fazer um omelete sem quebrar os ovos" , pois bem, nem por isso deveríamos ter abandonado certas tradições de nossa cidade , e nem deixar de cuidar bem dela ,que outrora era tida como um excelente lugar para se viver, pois tínhamos as maiores indústrias têxteis aqui(hoje já não tão atraentes).
    Desta forma passamos a receber inúmeros moradores de outras cidades e até mesmo estados, onde se deu tal crescimento (talvez até desordenado) pois veja o vc.onde moro hoje, temos cerca de 800 moradores(condomínio) e não tem 3% que são filhos da cidade.Eu não quero aqui dizer que quem vaio pra cá causou toda esta transformação, mas o conjunto da obra.Hoje não tenho dúvidas,ribeirão Garcia, nunca mais vai ser o que era quanto mais o rio Itajai onde era perfeitamente navegável, mas Parabéns pela belíssima história.

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  3. Desculpas , que dizer texto? .

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  4. Boa tarde.
    Que pena que seja dificil de manter o que era, vejam a degeneração da cidade Curitiba, apeasr de ser maios que Blumenau, mas tinha (ou tem) tradições da Alemanha.Tinha parentes em Blumeanau nos anos 70
    Que não se faça edificios, casas e condominios, sera preciso mao de obra de homens de outros estados para a construção civil.

    Pedro Becker
    Porto Alegre-RS

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  5. Alo grande Urda bom voce lembrar tudo isto é uma pena nos não termos mais politicos como antigamente ppois os atuais so pensam em vender em partes nosso grande Blumenau, que pena onde esta o secretario de turismo? para pelo menos agora na epoca da politica nos dizer alguma coisa bonita a fazer para nos e tambem para que possamos oferecer ao nosos turistas que vem ver Blumenau se ainda tem algum façam por exemplo o concurso de jardim mas bonito de Blumenau,se eles estão com vergonha de ter deixado nosso Belo Rio ficar tão poluido por não tersido feito mais cedo o tratamento de esgoto que so agora conheceram,que façam o torneio de pesca em uma lagoa de nossa cidade que a propria Prefeitura devia de ter a maior lagoa que poderia servir para criação de avelinos.que poderia ser oferecido apopulação entereçada a criação dos mesmos, apesar dos estragos da Cidade, vamos aguardar agora com a terceira ponte que vai jogar todo o transito do Garcia e do Bairro de Velha na passagem pelo Bairro da ponta Aguda se eles mesmos dizem que ponta aguda esta a anos sem siquer nenhum progeto de transito para desafogar o que atualmente estamos passando digo estamos passando pois sou morador da ponta aguda a 59 anos e nunca vi melhoria no transito.unica coisa feita passagem que ganharam o leito da Estrada de Ferro de Santa Catarina por dentro do tunel ,HaHaHa. abraços Valdir Salvador.

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  6. Prezados Adalberto e Urda,

    Parabéns pela postagem / texto.
    A lamentar somente que a degradação que vem acometendo nossas cidades tenha produzido efeitos também em Blumenau, o que nos entristece mais ainda.
    Lembro que após ficar mais de vinte anos sem visitar Blumenau e quando o fiz, em 1998, quem me acompanhou nessa ida não conseguia acreditar que aquela era cidade sobre a qual desfiei suas inúmeras características que a tornavam unica no Brasil.
    Como bem descreve a cronista, Blumenau deixou de ser uma cidade horizontal para ser vertical, como se não houvesse outra forma para crescer.
    Mesmo assim, ainda continuará sendo a minha cidade adotiva!

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  7. Prezado Adalberto Day e Urda, bom dia.
    O fragmento de tese de doutorado da Urda Alice Klueger que você enviou é muito bom, pois mostra exatamente as mudanças ocorridas em Blumenau durante os 50 anos de acompanhamento do desenvolvimento de nossa bela cidade.
    Não resta nenhuma dúvida que o crescimento urbano de toda cidade de grande porte como Blumenau, modifica o comportamento e costumes das pessoas que aí habitam. Por exemplo, nos anos de 1964 até 1967 período que tive o prazer de conviver com os Blumenauenses, havia no Grande Hotel que estava edificado na esquina da Av. Barão do Rio Branco com a Rua XV de Novembro uma boate no piso térreo e, quando os jogos do Olímpico eram em Blumenau, após os jogos desfrutávamos de uma boa música e agradáveis momentos. Talvez pelas mudanças ocorridas em Blumenau, não haja sequer o Grande Hotel que nos traz grandes recordações. E assim em todos setores da comunidade as mudanças de comportamento e costumes modificaram as características de Blumenau.

    De qualquer forma a tese da Urda é bem interessante e rico de informações comparando o antes e depois, parabéns, ótimo trabalho.

    Um tríplice e fraternal abraço.

    Barreira.
    Ex goleiro do Olímpico campeão em 1964
    SP.

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  8. Adalberto.

    Por favor transmita os parabéns à professora Urda e parabéns paa você também pela publicação do artigo.

    Antunes Severo

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