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domingo, 15 de dezembro de 2013

- Papai Noel existe?

Em histórias dos Natais apresentamos uma crônica da escritora e historiadora Urda Alice Klueger sobre Papai Noel na sua infância. 

PAPAI NOEL EXISTE ?

 Em 1960, eu havia entrada para a escola, a maravilhosa escola que abrir-me-ia as portas para o grande mundo que havia nos livros e, onde, coleguinhas mais sabidos do que eu, ensinaram-me que Papai Noel não existia. Eu encarei com força aquele desvendar de uma nova verdade e, conforme o Natal se aproximava, ficava em casa repetindo impertinentemente:
- Papai Noel não existe! Papai Noel não existe!
Minha irmã Margaret, então, tinha quatro anos, e é claro que minha mãe queria que ela continuasse a acreditar em Papai Noel. Quando eu começava com aquela cantilena boba, minha mãe pedia para que eu parasse, e depois implorava, e depois me ameaçava, mas eu não dava um passo atrás na reafirmação da nova verdade que descobria: Papai Noel não existia, e eu queria que todos soubessem que eu sabia disso.
Meu pai e minha mãe, com certeza, estavam bem de saco cheio comigo e aprontaram a sua cena de Natal.

Na noite de Natal, noite em que nós costumávamos achar muitos chocolates e presentes sob a árvore, jantamos com toda aquela ansiedade que as crianças têm na Noite de Natal, ansiosas por chegar a hora das surpresas. Depois do jantar, minha mãe lavou a louça com toda a calma, como em qualquer dia comum.
Depois, abriu as latas de doces-de-Natal e encheu alguns pratos com eles. Com mais calma ainda, levou os doces para baixo da árvore-de-Natal e os colocou lá, enquanto meu pai acendia as velas do pinheirinho. Ai sentaram-se a conversar, como em qualquer dia comum, e nesse ponto eu já estava explodindo. Minha ansiedade era tão grande que não resisti:
- E o Natal?
- Ora, nós estamos festejando o Natal! A árvore já está acesa, já temos os doces que fizemos...
- E os chocolates? E os presentes?
- Ah! Isto são coisa que o Papai Noel traz! Como Papai Noel não existe, como é que ele vai trazer tais coisas?
Se alguma vez senti frustração na vida, foi naquele momento. Onde estava o meu Natal? Onde estava o encanto dos pralinés recheados de rum, e as bonecas e os lápis-de-cor novos, e as garrafas de frisantes que se tomavam naquela noite? Onde estava a magia dos Natais anteriores? Onde estava aquela ânsia na alma, que nos outros anos havia me preenchido de alegria? Intensamente frustrada, eu creio que já estava a ponto de chorar, quando aconteceu o milagre: nossa casa passou a ressoar com grandes pancadas nas sua paredes de madeira, enquanto todos pulavam de susto e diziam:
- É o Papai Noel! É o Papai Noel!
Meu pai apressou-se a abrir a porta e, curvado sob um grande saco, Papai Noel de verdade entrou lá em casa. Naqueles idos, Papai Noel não se vestia de vermelho, como hoje; usava uma bizarra roupa feita de sacos de estopa e, à guisa de barba, tinha a pele de algum animal pequeno, com certeza caçado pela vizinhança, preso sob o queixo. Nenhuma criança de hoje levaria à sério aquele Papai Noel, mas eu levei, meu Deus, como levei! Voltara a acreditar nele imediatamente, nem me passava mais pela cabeça a outra certeza, e quando ele nos fez as tradicionais perguntas, tipo se obedecêramos à mãe durante o ano, fui eu quem respondeu com mais convicção. Ele era um Papai Noel exigente, mandou que nos ajoelhássemos e rezássemos uma Ave Maria e um Pai Nosso, e rezei com o maior fervor da minha vida até então. Foi embora, então, deixando-nos um saco pejado de guloseimas e presentes, e lá estavam os pralinés, as bonecas, os cadernos com cheiro de novo, as caixas de lápis-de-cor com 24 lápis, os joguinhos, as loucinhas para brincar de boneca. Tudo tinha ficado lindo, toda a magia voltara e, com certeza, eu era a criança mais feliz do mundo quando meu pai me deixou beber um pouquinho de frisante. (Hoje, não existe mais frisante. Fico pensando o que era aquela bebida de gosto tão bom. Talvez, seja o que hoje chamamos de cidra.)
Até hoje eu não sei quem foi o vizinho que se vestiu de estopa naquela Natal de 1960, e trouxe para mim a alegria de volta. Só sei que, a partir daí, por muitos anos ainda eu acreditei em Papai Noel. 
Blumenau, 01 de Dezembro de 1996. 
Urda Alice Klueger
Texto Urda Alice Klueger/Arquivo de Adalberto Day

5 comentários:

  1. Excelente matéria, Adalberto! Muito bom texto da Urda sobre as mais bonitas tradições do natal em Blumenau! Textos assim merecem ser divulgados para todos, pois resgatam tradições e relembram que a magia do natal e o Papai noel existem sim, no coração das pessoas!
    Grande abraço do amigo Ricardo Brandes!

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  2. Só que desta vez Urda me fez rolar algumas lágrimas.
    Recordações mil, sendo a que mais marcou e me recordo até hoje cria eu em um papai Noel bondoso e aquele ano de 1955 ele me castigou trazendo de presente uma TABOADA, e um recadinho para me aprimorar mais nos estudos.
    Chorei à demais. Recordo com saudades nostálgicas...
    Grato meu amigo e irmão, como sempre tocando nossos corações.
    Antônio Aires

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  3. Amigo Adalberto,

    A leveza do texto da Urda nos faz rever lembranças de nossa infância e acredito que a da existência do Papai Noel é a mais antiga delas, seguido de perto pela bela fábula da Cegonha que traz os bebes.
    Foi um tempo que as verdades - ou mentiras -, eram apresentadas com muito mais sutileza do que hoje, por isso talvez ainda sobrevivam.
    Parabéns aos amigos pela bela postagem e aproveito para desejar aos amigos blumenauenses um Feliz Natal e Ano Novo próspero!

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  4. Meu caro Adalberto, já falei aqui por varias vezes que seus textos ou de seus colegas sempre são fascinantes, pois nos levam ao passado de lembranças maravilhosas...
    Nilton Sérgio Zuqui

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  5. AMIGO Adalberto COMO É ENGRAÇADO,INFELIZMENTE TEMOS QUE ACREDITAR EM PAPAI NOEL DE POBRES E DE RICOS,COMO POR EXEMPLO O PAPAI NOEL DA NOSSA AMIGA Urda, o dela era feio e não era Papai Noel era Pissinique, eram os monstros que ajudavam o Papai Noel, porem ela tinha até ceia de natal coce já parou pra pensar quantas maneiras diferentes tem de natal se nos formos julgar pela parte comercial e aqueles que não tem como fazer o presente acada filho sabendo que tem mas do que um? por isto eu dou presente quando quero quando posso e não admito data, natal eu dou um forte abraço com desejos de muitas felicidades como faço a todos vocês. Beijos. Valdir Salvador.

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